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25/08/2014
Cabe às empresas o salto da Inovação



Coordenado pelo economista Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UNB), o estudo centra no setor privado - e não no estado - o protagonismo da Inovação brasileira. Para ganhar competitividade internacional, no entanto, as empresas brasileiras não devem concorrer em custos, que no Brasil continuarão altos, adverte o estudo, mas aumentar seus investimentos em ciência e tecnologia, P&D e inovações de produtos e de processos. “Empresas dos setores mais intensivos em conhecimento faturam e empregam mais, têm força de trabalho mais escolarizada, pagam melhores salários e participam mais ativamente do comércio internacional”, disse Arbache.

Segundo o estudo, os dados sobre o investimento em P&D das empresas brasileiras, que registram um aumento de 0,37% do PIB em 2000 para apenas 0,59% em 2011, demonstram como este setor no Brasil está pouco engajado na produção de conhecimento.

Para o Brasil se integrar as cadeias de conhecimento globais, “os investimentos em P&D, que hoje são de 1,2% do PIB, precisam chegar, no médio prazo, ao patamar da China, de 1,8%, e, no longo prazo, ao patamar dos países da OCDE, de 2,4%”.

Aos países produtores de atividades intensivas em conhecimento, demonstra o estudo, cabe a maior parte da renda. Na produção do iPad, exemplificou o economista, apenas 7% do valor final fica com os países produtores de peças e com a China, que o monta. Os demais 93% remuneram licenças de patentes, softwares e marcas, branding, marketing e outras atividades de alto valor, que se originam, na sua maior parte, dos Estados Unidos. “A melhoria de indicadores de conhecimento leva ao aumento do faturamento das empresas, das exportações e das importações e da remuneração dos trabalhadores”.

O estudo aponta evidências de que setores mais intensivos em conhecimento têm cadeias de produção mais longas e, portanto, consomem mais serviços. De fato, enquanto a relação entre serviços intermediários e valor adicionado nas indústrias mais intensivas em conhecimento é de 62,5%, nas menos intensivas a relação é de 48,4%. Logo, o aumento do produto nos setores intensivos em conhecimento tende a criar relativamente mais empregos indiretos.

No caso brasileiro, o estudo vincula a perda de competitividade da indústria ao baixo nível de investimento em inovação. Desde 2005, segundo o estudo, o nível de investimentos das empresas brasileiras em P&D está estacionado em pouco mais de 0,5%, contra 1,8% nos Estados Unidos, 1,6% na zona do Euro e 1,7% na China.

Com baixa produção em bens intensivos de conhecimento, conclui o estudo, o Brasil se beneficia pouco, das rendas geradas pelas “cadeias globais de valor”. De fato, ao participar com apenas 5% de “manufaturas sofisticadas”, contra 60% de “recursos naturais”, o Brasil está bem atrás de países como a Malásia (30%/30%), Costa Rica (35%/20%), Singapura (35%/20%) e China (30%/10%).

O estudo aponta dados do ano de 1997 e de 2012, indicando que o Brasil, neste período, ao saltar de 247 para 662 “patentes concedidas internacionalmente a residentes”, cresceu pouco neste quesito e, comparativamente, está muito atrás de países como a Coreia, (3.843/28.029), China (160/9.294) e Índia (80/2866) para citar alguns.

Este desempenho se reflete no ranking mundial da Inovação, onde o Brasil, segundo pesquisa da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (na sigla WIPO em inglês), abrangendo 142 países, ocupa uma modesta 64º posição, atrás da Coréia (18º), Malásia (32º), China (35º) entre outros.

O estudo aponta, ainda, que são as entidades públicas e empresas estrangeiras que respondem pelo grosso das patentes depositadas no Brasil. Mesmo assim, vêm declinando: de 3.400 patentes depositadas em 2003, houve queda para menos da metade em 2012.

Economista com larga experiência nas áreas governamental, setor privado, organizações internacionais e academia, Arbache é professor e autor de quatro livros e de mais de 90 artigos publicados em jornais acadêmicos especializados. Foi assessor econômico sênior da Presidência do BNDES e também economista sênior do Banco Mundial em Washington, DC, onde, dentre outras funções, dirigiu várias edições do relatório anual do Banco para a África. É colunista do Jornal Valor Econômico, do The BRICS Post e colaborador eventual do jornal Folha de São Paulo.